Sobre Yemanjá

Posted sábado, 25 de setembro de 2010 by ercy
YEMANJÁ é considerada mãe de todos os demais ORIXÁS OGUM, XANGÔ, OBÁ, OXOSSI e OXUM que nasceram de caso ilícito que teve com IFÁ. NANÃ como vimos, é mãe de OMULU e OXUMARÉ. YEMANJÁ, por sua vez, filha de OLODKUN, ORIXÁ masculino em BENIN, ou feminino em IFÉ, sempre do mar. No Brasil, é muito venerada, e seu culto tornou-se quase independente do CANDOMBLÉ. É representada como uma sereia de longos cabelos pretos.

Rege a maternidade, e é a mãe dos peixes que representam fecundidade. Seu dia à sábado. Nas grandes "obrigações", são oferecidos cabra branca, pata ou galinha branca.

Gosta muito de flores e é costume oferecer-lhe sete rosas brancas abertas, que são jogadas ao mar para agradecimento.

Sua cor é a branca com azul. Usa um ADÉ com franjas de miçangas que esconde o rosto. Leva na mão o BÉBÊ -- leque ritual de metal prateado de forma circular, com uma sereia recortada no centro.

0 tipo psicológico dos filhos de YEMANJÁ é imponente, majestoso e belo, calmo, sensual, fecundo e cheio de dignidade e dotado de irresistível fascínio (o canto da sereia).

As filhas de YEMANJÁ são boas donas de casa, educadoras pródigas e generosas, criando até os filhos de outros (OMULU).

À deusa das águas recorrem as mulheres que não conseguem engravidar.

Porque é Iemanjá quem controla a fertilidade, simbolizada em seu corpo robusto, forte, em seus seios volumosos e na aparência sensual.

Qualidades, aliás, de todas as suas filhas, que se revelam excelentes como donas de casa, educadoras e mães. Não perdoam facilmente, quando ofendidas.

São possessivas e muito ciumentas. Embora se mostrem tranquilas a maioria do tempo, podem se tornar verdadeiras feras quando perdem a paciência.

Mais do que isso, não perdoam ofensas com facilidade. Intrometem-se tanto na vida dos familiares que chegam a sufocar.

Mas a intenção é sempre das melhores.

YEMANJÁ, por presidir a formação da individualidade, que como sabemos está na cabeça, está presente em todos os rituais, especialmente o BORI.

O mais popular e universal de todos os orixás das àguas: Iemanjá (nagôs), Dandalunga (angolas), Kaiala (congos); também chamada Janaína e Dona Janaína, Princesa de Aiucá e, nos candomblés-de-caboclo, Sereia Mukunã.

REGÊNCIAS

AXÉ
Conchas e pedras marinhas, numa vasilha de porcelana azul. Insígnias: uma espada de folha-de-flandres e uma espécie de leque circular, também de folha-de-flandres, com adornos e, no centro, uma sereia recortada.



NATUREZA
mar, foz de rios, enseadas, baías.



METAL
prata



PEDRA
água-marinha



PERFUMES
Fleur de Rocaille, lírio, Syntoma.



COMO USAR
passar no corpo todo antes do banho de mar, ou tomar banho de sal grosso, lavar-se e passar um a cada sábado.



COR
azul-claro e prata.



COLAR
contas de vidro transparentes, ou fio de miçangas pingo d’água lavado em água de águas marinhas.

SACRIFÍCIOS: cabra, galinha, conquém (galinha-d’angola) e pato. Gosta de acaçá e de milho branco cozido (ebó) com azeite, cebola e sal.

DIA RITUAL: sábado, juntamente com Oxun.



FESTA
8 de dezembro, dia de Nossa Senhora da Conceição, com quem está sincretizada.



Anuncia sua presença com o grito: him hiymim!



SAUDAÇÃO
odôiá!

YEMANJÁ era uma deusa do rio de igual nome, que banha o território da nação iorubana de Egbá. As guerras fizeram com que o povo dessa nação fosse tangido para as margens do rio Ogun, cujo nome nada tem a ver com o orixá do ferro e das artes manuais. E foi deste rio que a grande iyabá partiu, para ser rainha do mar.

Mitos nagôs explicam como Yemanjá, graças a poderes mágicos, foi morar no oceano, reino de Olokun, seu pai. Aliás, essa mudança de deusa fluvial em deusa marítima tem sua implicação sociológica. O homem, como explorador, principiou, em rudes canoas, a singrar as águas dos rios; só muito mais tarde se aventuraria a enfrentar o desconhecido, na estrada larga do mar.

Ensina Verger que o grito com que se saúda a deusa – odô iyá! Significa "mãe do rio". Reverencia, pois, uma divindade fluvial. Ainda segundo Verger, o nome YEMANJÁ vem do iorubá yeyê ama ejá, "mãe cujos filhos são peixes".

Em Cuba o nome permaneceu o mesmo que o do rio africano onde a deusa nasceu. Por que, no Brasil, ganhou um "n" após o primeiro "a", transformando-se em Iemanjá? Simplesmente por uma certa tendência, em nossa língua, de uma consoante nasal provocar o anasalamento da vogal seguinte.



MÃE DOS ORIXÁS?

Na África, as esculturas com a efígie de Iemanjá mostram uma mulher de seios exuberantes, símbolo de fecundidade. Essa opulência mamária, no entanto, não justifica conhecido mito teogônico em que Iemanjá é apontada como a mãe de todos os orixás.

Narra tal mito que da união de Obatalá e Odudua nasceram Aganju, a terra firme, e Iemanjá, as águas. Os dois irmãos também se unem e geram Orungã, o ar, o espaço entre o céu e a terra.

Orungá apaixonou-se perdidamente por sua mãe, Iemanjá. Um dia em que pai estava ausente, ele a raptou, violou e propôs continuassem às ocultas o amor incestuoso. Iemanjá, desesperada, desprende-se dos braços do filho, mas ele a persegue. Quando o Édipo iorubano está prestes a alcançá-la, Iemanjá cai morta, de costas. Dos seios enormes nascem dois rios, que adiante se unem formando um lado, o lago Iemanjá. Do ventre desmesurado, que se rompe, nascem os orixás: deuses das atividades de subsistência, como Okô, da agricultura e Oxosse, da caça; e Xangô, deus do trovão, Ogun, do ferro e das artes manuais, Dadá, dos vegetais; e Olokun, do mar, Oloxá dos lagos, Okê, das montanhas; e as deusas dos rios nigerianos Oxun e Oiá(Niger); e Xankpanã, da varíola, Ajê-Kalagá, da saúde, Orun, o sol, Oxu, a lua.

O mito, que não inclui Exu e Ifá, duas divindades da mais alta importância, é contestado pela autoridade de Pierre Verger, que afirma jamais tê-lo encontrado na África. A história foi inventada por um missionário, o padre R.P.Noel Baudin (1884) e teve a sua perpetuidade garantida pelo ilustre coronel A B.Ellis, autor de um livro famoso. O mito, repetido por Ellis, foi citado por Nina Rodrigues, com a ressalva, porém, de que jamais o encontrou na Bahia, onde os negros que professavam o culto iorubá ou declararam que o desconheciam ou contestaram sua existência.

Em outra versão, contam que Yemanjá é filha de Olokum, a Senhora dos Oceanos, e que foi casada com um homem poderoso com quem teve dez filhos. Um dia, cansada de sua permanência em Ifé, foge na direção oeste, levando consigo uma garrafa que havia ganho certa vez de Olokun, contendo um misterioso preparado, a qual ela deveria quebrar jogando ao chão quando estivesse em perigo.

Iemanjá instalou-se em Abeokutá (seria uma alusão à migração da nação Egbá). O marido lança seu exército em busca de Iemanjá, com o objetivo de trazê-la de volta a Ifé. Quando se vê cercada, ela não se entrega, mas segue os conselhos de Olokum e quebra a garrafa.Imediatamente forma-se um rio, que a leva para Okun, o mar, morada de Olokum.

Deusa da foz dos rios e quebra-mares, a rainha dos mares, como é conhecida, é ciumenta mas não demonstra, preferindo aguardar a hora da revanche. É poderosa e atraente e quando invocada por quem realmente a conhece, propicia favores e ajudas inestimáveis.

Tem a grande capacidade da mãe que sempre atende a um filho, que geralmente caracteriza-se por ser pessoa voluntariosa.



A GRANDE FESTA DE IEMANJÁ

Há sete Iemanjás, filhas de Olokun, o mar, entre elas uma, guerreira, ligada a Ogun, outras a Orumilá, a Oxun, às feiticeiras.

A efígie de Iemanjá é a da segunda versão da sereia européia: uma linda mulher de longos cabelos e seis desnudos, com a metade do corpo como cauda de peixe (As sereias homéricas eram mulheres com corpo de pássaro).


No candomblé, Iemanjá veste saia rodada, bata de rendão, estola e, na cabeça, um gorro de pêlo branco ou uma espécie de mitra. Do gorro ou da mitra pende uma franja de contas, sobre o rosto. Iemanjá dança com movimentos que imitam as ondas do mar.

O grande culto de Iemanjá, no entanto, não é celebrado dentro do candomblé, mas lá fora, ao ar livre. Rainha, sereia, mãe-d’água, ela é a deusa de "todas as águas" da Bahia de Todos os Santos, cultuada em Amaralina e Itapoã, no Dique e no Rio Vermelho, nos lados de Abaeté e nas pedras de Monte-Serrate, e do outro lado, na ilha de Itaparica.

No dia 2 de fevereiro, de Nossa Senhora das Candeias (apesar da santa ser identificada como Oxun, a festa é de Iemanjá), sai para o largo a grande e festiva procissão marítima dos candomblés e do povo da Bahia. Tudo tem início na Casa do Peso, assim chamada por ser aonde os pescadores levam o peixe para ser pesado. A pequena edificação, num promontório do Rio Vermelho, amanhece enfeitada com um arco de folhas de coqueiro e bandeirinhas multicoloridas. Lá dentro, sob a atenta e respeitosa vigilância de uma mãe-de-santo e de um pai-de-santo, um grande balaio aguarda os presentes para Iemanjá. Os crentes formam longa filha e, um a um, vão colocando no balaio bilhetes para Janaína, pedindo ajuda em casos de amor e dinheiro, na realização de sonhos e ambições; e depositam os presentes do seu amor e da sua devoção – flores, perfumes, tecidos, rendas, fitas, dinheiro, espelhos, pentes, sabonetes... presentes que a deusa irá receber em alto mar. Inclusive animais vivos. Pois nada é demais para ser dado a Iemanjá. Ela é a senhora do mar – a que amaina a fúria das ondas, contorna os escolhos, impede que as redes de pesca voltem vazias.

Perto da Casa do Peso ressoam os atabaques, ritmando os cânticos sagrados. E há rodas de samba e de capoeira. E uma verdadeira multidão. Chega, enfim, o grande momento. A mãe e as filhas-de-santo saem com o grande balaio repleto de oferendas, rumo ao barco que vai levá-lo à Rainha do Mar. E logo parte a procissão dos saveiros e outras embarcações. Num determinado ponto, em lugar bem fundo, o balaio é depositado sobre as águas. Se o presente não afundar, é sinal de que não foi aceito por Yemanjá. Mas ela sempre aceita, bondosa e compassiva, sendo muito difícil que um presente para Janaína fique boiando sobre as ondas.

Ante a expectativa geral, os barcos regressam, com a alegre notícia de que a deusa recebeu de bom grado as oferendas. Os atabaques ressoam mais festivos. Os cânticos se elevam com mais exaltação e alegria. Iemanjá está em paz com seus filhos e propiciará sejam todos os desejos realizados.

YEMANJÁ NA UMBANDA


A linha de Iemanjá governa as legiões seguintes: Sereias (Oxun), Ondinas (Nanã Buruku), Caboclos do Mar (Indaiá), Caboclos dos Rios (Iara), Marinheiros (Tarimá), Calungas (Calunguinha) e Estrela Guia (Maria Madalena).

Suas cores são o branco e o azul. As oferendas a Iemanjá constam de flores de cor branca – rosas, cravos, lírios, palmas-de-santa-rita – perfumes, moedas de niquel, sabonete pequeno e outros agrados, que são deixados na praia, junto do mar, ou colocados num barquinho, que é solto nas ondas. A bebida das obrigações é champanhe, frequentemente democratizada como cidra espumante.

No Rio de Janeiro, a festa de Iemanjá é celebrada a 15 de agosto, dia de Nossa Senhora da Glória, com quem está identificada. Mas é na passagem do ano que se realiza a gigantesca e impressionante comemoração popular de Iemanjá, nas praias cariocas e fluminenses, o mesmo acontecendo em Santos e em Porto Alegre. Os "filhos de fé", com suas roupas brancas e colares de muitas cores, improvisam "terreiros" nas praias – um círculo de flores fincadas na areia e velas acesas e garrafas de bebidas e as comidas dos santos... Entoam-se cânticos rituais, ao som dos atabaques. "Baixam" os santos, a maioria Caboclos, que atendem as consultas dos crentes. O povo traz presentes para Iemanjá, com braçadas de flores brancas. Soltam-se no mar barquinhos com oferendas. Jogam-se moedas nas ondas, propiciando um bom Ano Novo.

Até há poucos anos atrás, as velas acesas se multiplicavam nas praias urbanas da Zona Sul que, vistas a uma certa distância, davam a impressão de que as estrelas haviam caído na areia. Era como se, à beira-mar, os "terreiros" se sucedessem. Hoje, a noite de Iemanjá transformou-se num show promovido pela TV e outros meios de comunicação, atraindo grandes multidões, que se movimentam e comprimem em tumulto. Em Copacabana, à meia noite, espetáculos pirotécnicos são realizados por grandes hotéis e firmas comerciais. Sucedem-se por toda a parte, perigosamente, os estouros ininterruptos de morteiros de mão, acesos por populares. Então a gente dos "terreiros" foi procurar praias mais distantes e tranqüilas, longe da curiosidade divertida dos turistas e da fúria contínua dos estampidos. Foi em busca de lugares mais propícios para cultuar Iemanjá, a rainha do mar.

RITUAL DE YEMANJÁ



Para ser abençoado pela rainha do mar e atrair muito sucesso, vá até a praia num sábado e entregue nas águas um barquinho de isopor contendo algumas maçãs, uvas, um mamão, sete rosas brancas, um vidro de pergume de alfazema e um espelho. Junto das oferendas, coloque um papel com todos seus pedidos por escrito. Depois, abra uma champanhe e despeje o líquido por todo seu corpo, enquanto repete seus pedidos em voz alta. Por fim, lave-se nas águas